ESBOÇO GERAL
I – CONTEXTO HISTÓRICO DE SAMARIA
II – O EVANGELHO ENTRE OS SAMARITANOS
III – FILIPE EM SAMARIA E SIMÃO, O MÁGICO
SIMÃO, O MÁGICO OU SIMÃO MAGO
Esequias Soares
Daniele Soares
Antes da chegada de Filipe a Samaria, ali estava Simão, o mágico, conhecido também como Simão Mago: “Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica e tinha iludido a gente de Samaria, dizendo que era uma grande personagem” (At 8.9). Ele era reconhecido pela população samaritana como “a grande virtude de Deus” (At 8.10). Isso significa que Simão se declarava um tipo de emanação ou representação do ser divino. Segundo Justino, o Mártir, Simão Mago nasceu num vilarejo chamado Giton (Apologia I.26), aldeia situada 10 quilômetros a oesteda atual Nablus, na região de Sicar (Jo 4.5), a antiga Siquém no Antigo Testamento.
Parece que a sua popularidade foi eclipsada com a chegada de Filipe na cidade. Mas o relato afirma: “E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou, de contínuo, com Filipe e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito” (At 8.13). O que muito se discute é essa conversão, pois tradicionalmente Simão era hipócrita, segundo Irineu de Lião: “Este Simão fingiu abraçar a fé, pensando que também os apóstolos realizassem curas por meio da magia e não pelo poder de Deus” (Contra as heresias, I.23.1). Mas o texto sagrado diz que Simão creu e foi batizado juntamente com os outros samaritanos. Justo González, citando Jürgen Roloff, explica em seu comentário sobre o livro de Atos: “Simão concordou em se juntar à comunidade na esperança de descobrir o segredo do poder de Filipe de realizar feitos extraordinários; por isso, ele não o deixa sozinho, a fim de observá-lo de perto enquanto ele desempenha suas atividades” (p. 136). Isso indica que nem sempre uma pessoa estar dentro da igreja significa que sua vida foi transformada por Cristo; muitas vezes é mera curiosidade ou interesse em copiar a ação de Deus, como se isso fosse possível.
A chegada dos apóstolos Pedro e João a Samaria implica que ainda faltava alguma coisa; era o batismo no Espírito Santo. Essa promessa completava a obra do evangelho na região: “Então, lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo” (At 8.17-19). Simão viu que os apóstolos tinham o poder de conferir o Espírito Santo por imposição de mãos. Ele desejava ter esse mesmo poder para ampliar o seu currículo, por isso ofereceu dinheiro em troca. Simão não se interessou pelo dom de realizar milagres, pois pediu para comprar o dom específico, ou seja, receber o dom do Espírito Santo pela imposição de mãos. Ele estava tratando o dom do espírito Santo como mercadoria. Mas o apóstolo Pedro respondeu com uma maldição que era ao mesmo tempo um convite ao arrependimento (vv. 20-22). Nada indica no relato que Simão se arrependeu; está escrito que ele pediu que Pedro e João orassem por ele: “orai vós por mim ao Senhor” (At 8.24). A prática de compra e venda de posições eclesiásticas na Idade Média passou a ser chamada de “simonia”, porque Simão Mago quis comprar o dom do Espírito Santo com dinheiro. O termo é usado ainda hoje, principalmente aos charlatões, que tratam o dom de Deus como se fosse mercadoria.
O texto sagrado não diz o que aconteceu depois disso com Simão, mas há uma farta literatura patrística que mostra a má impressão de Simão Mago como poucos personagens bíblicos. Segundo Irineu de Lião, Simão foi o originador de todas as heresias (Contra as heresias, I.23.2). Esse pensamento se perpetuou ao longo da história. A literatura patrística acusa com frequência Simão como o pai do gnosticismo. Talvez haja exagero nisso tudo, mas é certo que existem fortes ligações entre Simão e o gnosticismo antigo.
Simão Mago era tido pelos samaritanos como o “Grande Poder” acostumado a ostentar dinheiro e operar milagres. Ele estava agora diante de um pescador da Galileia transformado em um pescador de almas, revestido do poder do alto, que impunha as mãos sobres pessoas e elas recebiam o Espírito Santo. Era a diferença entre o poder do dinheiro e o poder que transforma um humilde pecador em apóstolo de Cristo. Somente os cristãos têm poder a autoridade sobre as hostes da maldade (Mt 10.4; Lc 10.19). As obras das trevas são demolidas pelo poder de Deus no trabalho de pregação do evangelho de Cristo.
Texto extraído da obra “Batalha Espiritual”, editada pela CPAD.