Batalha espiritual – A realidade não pode ser subestimada

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 1 do trimestre sobre “Batalha espiritual”

Pela graça e para glória de Deus chegamos ao início de um novo ano letivo. E começamos muito bem! Ao longo destes três primeiros meses de 2019 estaremos estudando sobre assuntos muito práticos e dentro de uma realidade comum a todos nós, tudo submetido ao grande tema geral batalha espiritual.

Antes de prosseguirmos, gostaria de te apresentar um conteúdo que pode lhe ajudar a melhorar suas aulas na Escola Bíblica Dominical. O curso produzido pelo Instituto Mundo Bíblico chama-se Bacharel Livre em Teologia. Clique aqui e saiba mais!

Devido a pluralidade religiosa de nosso país, sincretismo pelo qual noções estranhas sobre o mundo espiritual são disseminadas entre os cristãos, escassez de conhecimento bíblico e teológico, além da falta de discernimento espiritual, este tema tem se feito cercar de muitos engôdos, superstições e até heresias perniciosas. Entretanto, com a “palavra da verdade” (2Tm 2.15) em nossas mãos e corretamente interpretada, removeremos não só dúvidas, mas equívocos presentes na mente de muitos irmãos, bem como afastaremos toda prática contrária a sã doutrina, e instruiremos nosso povo sobre a verdadeira batalha espiritual e como ser vitorioso nela a cada dia!

I. Batalha espiritual

  • Deus e o diabo não têm forças iguais

Filosofias e religiões antigas têm proposto um dualismo no universo, uma luta de forças equiparadas entre o bem e o mal. Religiosos menos instruídos chegam a supor inclusive que Deus estaria em uma luta equilibrada contra satanás, sendo este um grande rival daquele. Todavia, não há rival para Deus! Nem mesmo o líder dos espíritos caídos, o “deus deste século” (2Co 4.4) ou “príncipe deste mundo” (Jo 12.31) pode apresentar-se como um oponente de força igual ao El Shadday, o Deus todo poderoso! Em duas sentenças bíblicas podemos ver a disparidade de força do nosso Deus:

1°. Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago (Lc 10.18, NVI). Neste texto Jesus fala da derrota de satanás mediante o avanço do reino de Deus e a pregação do Evangelho de poder, além de dá-nos uma antevisão da derrota definitiva do nosso adversário (conf. Rm 16.20). Na arena espiritual, satanás não é páreo para o grande Eu Sou! Tanto é que Jesus nos confere o poder divino que pode garantir vitória na batalha contra o mal: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum” (Lc 10.19).

2°. “…porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1Jo 4.4). O mundo está no maligno e o maligno é o príncipe deste mundo, todavia maior é o que está conosco! Logo, como poderia haver uma luta de forças iguais entre Deus e o diabo, entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas? É bastante conhecida a frase do reformador alemão Martinho Lutero: “Satanás é um cachorro na coleira de Deus”. Podemos ficar tranquilos e confiantes: nosso Deus venceu, vence e sempre vencerá! E quem estiver do lado dele em meio às batalhas espirituais, com certeza também vencerá! Como cantamos, “Vencerá, vencerá, por seu sangue vencerá; vencerá, vencerá, sempre vencerá…” [1]

  • A realidade da batalha espiritual

Agora, feitas essas considerações, devemos dizer que de modo algum podemos negar a existência de uma batalha espiritual. Ela existe e estamos no meio dela. Doutro modo não faria sentido as Escrituras nos advertirem:

Efésios 6.12: “a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as fo

rças espirituais do mal nas regiões celestiais” – perceba que o texto fala de luta (gr. pale) ou batalha. Apenas atente: não é uma luta de Deus contra o diabo, mas a “nossa luta” que é contra, em resumo, as forças espirituais do mal. Somos nós, enquanto Igreja do Senhor, luz do mundo e sal da terra, lutando para tomar dos domínios de satanás as vidas preciosas para Deus, além de nos mantermos inabaláveis! (v. 13)

2Coríntios 10.4: “As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” – novamente o apóstolo Paulo fala de luta, e que não se vale de armas carnais, de fabricação humana, mas espirituais e poderosas em Deus. Se por um lado é um equívoco superestimar as forças das trevas, como muitos místicos e fanáticos por ocultismo e demonologia o fazem, por outro lado é igualmente errado subestimar essa realidade e ignorar a necessidade de constante vigilância, prudência e autoridade no nome e poder do Senhor. Com minha mãe, uma fiel e humilde serva do Senhor, aprendi que Jesus só entra se lhe abrirmos as portas; satanás, porém, aproveita as brechas!

O renomado escritor Hank Hanegraaff com muita propriedade nos lembra que as armas dos nossos oponentes também são espirituais e não físicas. Destaca este autor que, “embora eles não possam nos ferir fisicamente, nos violentar sexualmente ou nos fazer levitar, podem nos tentar a trair, roubar e mentir” [2], além de muitos outros pecados, crimes e atos desumanos. Em vista disso, precisamos atentar prontamente para a exortação do apóstolo Pedro: “Sejam sóbrios e vigilantes. O inimigo de vocês, o diabo, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8).

  • Abusos sobre o assunto

Não é de hoje que o assunto batalha espiritual é destoado por pessoas ingênuas que padecem de conhecimento genuíno. Mais especialmente com o crescimento do pentecostalismo e do neopentecostalismo, têm-se notado abusos cada vez mais constantes tanto no discurso quanto na prática, especialmente naquelas igrejas em que não se vê uma tradição teológica.

Por um lado, vê-se um tratamento trivial, jocoso e irreverente por parte de alguns crentes ingênuos, que ficam a fazer piadas com o nome ou as obras do inimigo; por outro lado, vê-se pregadores renomados e até igrejas pujantes superestimando os poderes infernais, fazendo afirmações e criando doutrinas sobre o reino espiritual que definitivamente não encontram respaldo nas Escrituras e somente exaltam a figura do diabo.

Nalgumas igrejas neopentecostais Brasil afora, o diabo tem tido, em muitos cultos, mais voz do que a própria Palavra de Deus. É tanta conversa com o diabo antes de expulsá-lo que não sobra tempo para o louvor a Deus, as orações ao Senhor e a pregação da maravilhosa Palavra! Os chamados “cultos de libertação” têm há muito se transformado em um verdadeiro talk show com o diabo: pastores invocando satanás para que ele apareça e encarne no corpo de uma alma infeliz, quando começa a sessão de entrevistas com o “pai da mentira” (Jo 8.44), como se ele merecesse crédito no que diz. Algumas dessas entrevistas com demônios são tão absurdas que a gente fica sem saber se tudo não passa de uma encenação ou se o diabo realmente resolveu entrar na brincadeira para entreter os ingênuos, transformando a igreja em circo e mantendo os crentes o mais distante possível da verdade das Escrituras e alheios às reais pelejas espirituais.

Com um pouco de Bíblia mal interpretada, acrescentando-se sincretismo religioso e uma pitada de fanatismo é possível se criar uma boa (ou péssima!) receita para falsas doutrinas e heresias perniciosas! Todavia, precisamos aprender a “não ir além do que está escrito” (1Co 4.6), bem como não transformar experiências pessoais em confissões doutrinais, e ainda estarmos amadurecidos na fé e na Palavra para provarmos os espíritos, se procedem de Deus ou não, visto que muitos falsos profetas se têm surgido no mundo (1Jo 4.1).

II. Principais crenças da pseudobatalha espiritual

Não há dúvida de que ao longo deste trimestre muitas crenças equivocadas sobre batalha espiritual serão desfeitas ou corrigidas à luz da sã doutrina. Porém, começamos hoje desfazendo três ensinos que estabelecem uma pseudobatalha, isto é uma falsa (pseudoem grego significa falso) batalha espiritual. São ensinos encontrados em muitas igrejas neopentecostais (e na respectiva literatura de seus pregadores e mestres) que, não raro, superestimam a presença ou atividade dos espíritos das trevas.

  • Mapeamento espiritual

A doutrina do mapeamento espiritual procede da teoria dos demônios territoriais, segundo a qual cada território de uma nação está sob o comando de determinados espíritos malignos que precisam serem conhecidos, neutralizados e vencidos para que o reino de Deus possa prosperar ali. Essa teoria não tem respaldo bíblico, senão numa interpretação frágil e forçada de passagens bíblicas como Daniel 10.13,20 ou Marcos 5.10, que de modo algum estabelecem a doutrina dos demônios territoriais ou de uma necessidade de se proceder um mapeamento espiritual da ação demoníaca para somente então derrota-los.

Não poucas igrejas neopentecostais, agindo sob pretensas revelações e “direcionamentos de Deus”, têm realizado os chamados atos proféticos nas casas, ruas, rios, mares, florestas ou em praças públicas, para expulsar estes espíritos que foram detectados através do suposto mapeamento. Alguns usam água ungida, outros preferem óleo importado de Israel, há quem use farinha e outros elementos quase sempre vinculados a algum fato miraculoso do Antigo Testamento. O apóstolo Renê Terra Nova, um dos maiores representantes do movimento G12 no Brasil, orienta seus seguidores assim:

“Demarcamos territórios através da unção, da oração, da profecia, dos atos proféticos, utilizando vinho, pão e azeite. Os territórios que Deus entrega em nossas mãos não são temporais, são eternos, mas se não vigiarmos perderemos o que conquistamos. Os atos proféticos são fatores fundamentais para essa conquista” [3]

Resta apenas saber em que parte do evangelho está ordenado à Igreja proceder um mapeamento dos espíritos malignos ou o uso de atos proféticos para tomar-lhes territórios. Esta não parece ter sido a estratégia de Jesus, dos apóstolos e daquela igreja primitiva.

  • Maldição hereditária

O pastor pentecostal Walter Brunelli, em sua obra Teologia para Pentecostais, que é uma obra de teologia sistemática, discorre sobre a nefasta teoria da maldição hereditária da seguinte forma:

…de uns anos para cá, a igreja evangélica tem sido bombardeada com ensinamentos estranhos que nascem da observação indevida de alguns textos bíblicos do Antigo Testamento, os quais dizem respeito a Israel e não à Igreja. Tais textos têm sido mal interpretados e mal aplicados pelos expoentes dessas doutrinas concernentes a uma sucessão de pecados herdados dos ancestrais e que precisam ser tratados por meio de alguns rituais. Soma-se a isso, a tentativa de adaptação das terapias praticadas pela Psicologia no aconselhamento pastoral sob o p

retexto de “cura interior”, induzindo pessoas a sessões de indução mental, onde se constatam comportamentos regressivos, supostamente, até à idade uterina. (…) O que esses “terapeutas espirituais” tentam fazer é arrancar confissões de pecados escondidos no inconsciente e rastrear pecados cometidos por ancestrais como pais, avós, bisavós etc. [4]

O poeta inglês William Shakespeare dizia que até mesmo o diabo citará a Bíblia quando isso lhe for conveniente. De fato, lendo a tentação de Jesus em Mateus 4, e vendo o diabo citar o Salmo 91 para tentar Jesus a cometer suicídio, vemos como o inimigo é sorrateiro no mau uso da Bíblia. Não à toa, Eric Lund disse que o diabo foi o primeiro hermeneuta da história, porque foi o primeiro a fazer menção das palavras de Deus e interpretá-las, ainda que de modo propositalmente torcido para levar Eva a comer o fruto proibido no Éden. [5]

Assim sendo, não deve causar-nos espanto que a teoria da maldição hereditária tenha pretensão de ser bíblica, enquanto cita textos mal interpretados do Antigo Testamento, como Deuteronômio 5.9, onde Deus prenuncia ao povo de Israel e sob o antigo pacto – já superado na cruz de Cristo! – vingança contra as famílias daqueles judeus que persistissem em práticas pecaminosas. Todavia, uma rápida meditada nos versículos iniciais de Ezequiel 18 seria suficiente para remover esse engano, visto que está escrito: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”(Ez 18.20).

Todavia, não é só a Bíblia que é mal interpretada, mas os próprios fatos e a realidade em volta são sempre tratados com um toque de fanatismo por parte dos propagadores da teoria da maldição hereditária. Isto se vê claramente nas palavras de Marilyn Hickey, talvez a mais famosa expoente dessa teologia no mundo hoje:

As maldições são transmitidas de geração a geração. Companhias seculares (leigas) de seguro sabem disso. É por isso que perguntam: “Há algum caso de doença do coração em sua família? Há deficiência renal? Alta pressão sanguínea? Diabetes?” Êxodo 20.5 diz que os pecados dos pais são visitados nos filhos, até a quarta geração [6]

Chega a ser risível pensar que as companhias de seguro imaginam que pessoas que sofrem de doenças congênitas ou genéticas estão debaixo de maldição. Mas para Hickey, “as companhias de seguro sabem disso”.

Sobre os efeitos nocivos desta doutrina, Brunelli comenta:

A doutrina da “quebra de maldição hereditária”, tem deixado um saldo negativo com pessoas frustradas, neurotizadas e outras em tratamento psiquiátrico, já que este tipo de manipulação não deu resposta às crises da alma e nem mudou circunstâncias para os que esperavam nela como revelação última da causa primeira dos males que afligem o indivíduo. [7]

O agravo ao texto bíblico e os efeitos danosos sobre a mente dos crentes que abraçam esta doutrina constituem razão suficiente para nos posicionarmos contra essa prática de quebra de maldições hereditárias, coisa em que nem Jesus nem seus apóstolos nunca se ocuparam!

  • Crentes possessos por demônios

O casal Frank D. Hammond e Ida Mae Hammond são autores do livro Porcos na sala, no qual defendem com veemência a possibilidade de cristãos serem moradas de demônios. Afirmam sem hesitar: “Neste livro, temos tomado a posição de que os crentes podem ser habitados por demônios” [8]. Este casal entendia que o espírito do cristão não poderia ser habitado por demônios, mas a alma (mente) e o corpo sim.

De todas as aberrações doutrinárias que vimos até aqui, esta deve ser a mais grave! O pastor Esequias Soares cita Valnice Milhomens, fundadora do Ministério Palavra de Fé e da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, segundo quem “enquanto o Espírito Santo pode habitar no espírito [do crente], os demônios podem habitar na carne… Eles se escondem em algum lugar nos cantos” [9]. Milhomens demonstra como esse ensino está mais comprometido com relatos de experiências missionárias do que com um sólido respaldo bíblico quando afirma: “o fato de o nosso corpo ter-se tornado o templo do Espírito Santo não quer dizer que jamais poderá ser ocupado por maus espíritos. […] Todos quantos se envolvem no ministério de libertação testemunham a manifestação de demônios em cristãos” [10]. Mas eu pergunto: Jesus e os apóstolos não estiveram envolvidos no ministério de libertação das almas oprimidas do primeiro século? Por que eles não testemunham para nós a manifestação de demônios em cristãos?

Kenneth Hagin, um dos pioneiros da doutrina da Confissão Positiva, ensinava que o homem “é um espírito – tem alma – e vive num corpo” [11]. A partir desse conceito errado de tripartição humana e de um estudo superficial da antropologia, desenvolveu-se a tese de que o espírito do crente permanece intacto e protegido por Deus, enquanto que a carne e a alma podem sofrer possessões demoníacas. Se você lembrou das teorias gnósticas do segundo século, que propunham um dualismo entre o espírito e a carne do homem, saiba que você não pensou sozinho. Há realmente um parentesco entre ambas – e espúrias – teorias!

Como estamos sempre querendo insistir na necessidade de confirmarmos nossas doutrinas numa exposição clara e fiel das Escrituras, volto a questionar se há amparo bíblico para a doutrina da possessão demoníaca dos crentes. Que crente verdadeiramente salvo foi possuído por demônios nos tempos bíblicos? Apenas ressalte-se desde já que “dar lugar ao diabo” e cair em suas armadilhas (pecando por pensamento, palavra ou ação) não significa necessariamente estar endemoninhado, isto é, tomado em seu corpo pelos poderes das trevas.

III. Vamos à Bíblia

  • Mapeamento espiritual é bíblico?

Embora se apele muito para o caso de Daniel (10.13,20 – o “príncipe da Pérsia” que lutou contra o anjo que veio trazer a resposta da oração de Daniel) para tentar respaldar a doutrina dos espíritos territoriais e do mapeamento espiritual, fato é que em  lugar nenhum está dito que Daniel precisou conhecer os demônios que estavam impedindo a resposta de sua oração chegar, muito menos está dito que ele tenha “amarrado” estes demônios através de palavras de ordem ou atos proféticos! De igual modo, nunca vemos Jesus ou seus discípulos mapeando as áreas de Israel ou as terras dos gentios para detectarem através de um GPS espiritual a presença de espectros das trevas nas proximidades. O que vemos é Jesus e seus discípulos pregando o evangelho “a toda criatura” (Mc 16.15) e dando demonstrações do poder de Deus por onde iam, através de sinais e maravilhas.

Quando se deparavam com pessoas endemoninhadas, nunca esbravejavam: “demônio, saia desse território! Saia dessa cidade! Saia desse país!”, mas apenas ordenavam que saíssem daquelas pessoas que até então estavam sob seus domínios (conf. At 16.16,18). Não tenho dificuldades para concordar que satanás possa, como dizia Leon Wood, indicar emissários especiais para influenciar governos contra o povo de Deus [12]. Todavia, isso só demonstra a livre atuação do mal e a articulação no reino das trevas, e não um controle meticuloso e exclusivo de um ou alguns demônios sobre determinada região, e que uma vez vencidos, estes demônios nunca tornarão àquele território e que a igreja finalmente descansará ali em berço esplêndido. Este ensino nunca foi o ensino de Jesus ou de seus apóstolos!

Quando Jesus ordenou ao adversário “Vá embora, satanás” (Mt 4.10, NAA), nos é dito que o diabo obedeceu e afastou-se de Jesus, mas somente “até momento oportuno” (Lc 4.13). Logo, não é verdade que sob uma palavra de ordem o diabo e seus asseclas se afastarão em definitivo. Nas palavras do apóstolo Pedro, “o diabo, vosso adversário, anda em derredor…” (1Pe 5.8). Todavia, se a exemplo de Jesus nós hoje resistirmos ao diabo, ele fugirá! (Tg 4.7) E se ele manifestar-se no corpo de alguém, teremos o poder divino ao nosso favor para pisar sobre toda força do inimigo (Lc 10.18). “Em meu nome expulsarão demônios”, nos prometeu Jesus (Mc 16.17).

  • Maldição hereditária é bíblica?

Sobre a maldição no antigo pacto mosaico, o pastor Brunelli destaca que “A maldição no tempo da lei visava a coibir os crentes contra a possibilidade de se desviarem para outros deuses, mas: ‘Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós’” [13]. De fato, como propõe este pastor e também teólogo, a doutrina da maldição hereditária nada tem a ver com as doutrinas cristãs ortodoxas e mais “assemelha-se à doutrina dos espiritas, no que tange ao ‘carma’ e a dos mórmons, que vasculham a história de vida dos antepassados, a fim de se redimirem por eles, valendo-se do ‘batismo pelos mortos’” [14]. Maldição hereditária é o “outro evangelho” (Gl 1.8,9)!

Nenhum pecador está obrigado a confessar pecados de seus ancestrais, nem mesmo facultativamente! Cada um há de prestar contas diante de Deus por suas obras (Rm 14.12). Paulo não exortou Timóteo a ter cuidado com os pecados de seus ancestrais, mas a ter cuidado de si mesmo (1Tm 4.16). Uma verdade axiomática das Escrituras e que é conhecida de todos os crentes é esta: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17). Ou ainda há maldição e o amaldiçoado não está em Cristo, ou está em Cristo verdadeiramente e agora vive em novidade de vida! Mas definitivamente não existe um salvo genuíno vivendo debaixo de maldição! Essa batalha espiritual pela quebra de maldição hereditária não passa de falácia, falsa doutrina e propaganda gratuita para satanás.

  • Possessão demoníaca por parte dos crentes é bíblico?

Creio que posso sintetizar a resposta a esta pergunta nas palavras muito propícias de Hanegraaff:

Primeiro, o próprio Cristo impede a possibilidade de um cristão ser possuído por demônios. Usando a ilustração de uma casa, Jesus pergunta: Como pode alguém entrar em casa do homem valente e furtar os seus bens, se primeiro não manietar o valente, saqueando, então, a sua casa? (Mt 12.29) No caso de uma pessoa possuída por demônios, o homem valente é, obviamente, o diabo. Logo, no crente, em quem habita o 

Espírito Santo, o homem valente é Deus. A força do argumento de Cristo leva, inexoravelmente, à conclusão de que, para os demônios possuírem os crentes, deveriam primeiro ter de deter aquele que os ocupa – o próprio Deus! [15]

Reforçaria ainda que, nas palavras de Paulo, somos templo e morada do Espírito de Deus (1Co 6.19). E Paulo não diz “o vosso espírito é o templo”, mas “o vosso corpo é o templo”. A palavra templo (gr. naos) significa santuário, isto é, lugar sagrado! Se Valnice Milhomens ensinou que os demônios se escondem “nalgum lugar” do corpo do crente, eu venho dizer que “todo lugar” no corpo do crente é lugar sagrado do Espírito Santo, e onde o Espírito Santo domina não há espaço para demônios se esconderem!

Ressalte-se que influência demoníaca é uma coisa, possessão demoníaca é outra bem diferente! Pedro deu lugar ao diabo e deixou-se por ele influencia, quando emprestou sua boca, por falta de vigilância, para que o inimigo tentasse, através de suas palavras, impor embaraços ao ministério de Cristo (Mt 16.22,23). Na verdade, qualquer um de nós corre semelhante risco, por isso a advertência nos está dada: “Não deis lugar ao diabo” (Ef 4.27). Todavia, possessão demoníaca é o corpo estar sob a posse dos demônios. Como pode o lugar sagrado do Espírito Santo, que é o corpo do crente, transformar-se em posse de satanás? O texto bíblico é claro: “fostes comprados por bom preço” (1Co 6.20) e pertencemos aquele que nos comprou! Além do que, “o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” (1Jo 5.18).

Conclusão

Estamos em guerra contra os poderes das trevas. Não vamos subestimá-los nem superestimá-los, mas vamos enfrentá-los no poder e no nome de Jesus Cristo, o maior dos maiorais! Para um novo ano, uma nova disposição. Oremos mais, vigiemos mais, nos consagremos mais, estudemos mais a Palavra, e coloquemo-nos sob os cuidados daquele que tem todo poder tanto no céu quanto na terra (Mt 28.18). Se assim fizermos, nenhum mal será páreo para nós!

Fonte: Gospel Prime

Por: Ciro Sanches Zibordi

Referências

[1] Harpa Cristã, hino 372, CPAD.
[2] Hank Hanegraaff. O livro de respostas bíblicas, CPAD, p. 97
[3] Renê Terra Nova. Atos proféticos: comando de Deus ou invenção humana?, vol. 1, 2 ed., Semente de Vida
[4] Walter Brunelli. Teologia para pentecostais: uma teologia sistemática expandida, Central Gospel, p. 189

[5] Eric Lund & P.C. Nelson. Hermenêutica: princípios de interpretação das sagradas Escrituras, Vida, p. 31
[6] Marilyn Hickey. Quebrando a cadeia da maldição hereditária, ADHONEP, p. 51
[7] Walter Brunelli. Op. cit., p. 191
[8] Frank Hammond e Ida Mae Hammond. Porcos na Sala. Bompastor Editora, pp. 175,6
[9] Esequias Soares. Batalha espiritual: o povo de Deus e a guerra contra as potestades do mal, CPAD, pp. 23,4
[10] Valnice Milhomens. Batalha Espiritual (Apostila), São Paulo, Palavra da Fé Produções, 1993, p.53
[11] Esequias Soares. Op. Cit., p. 24
[12] Leon Wood. citado por William MacDonald em Comentário Bíblico Popular – Antigo Testamento, Mundo Cristão, p. 735
[13] Walter Brunelli. Op. cit., p. 192
[14] Walter Brunelli, Op. cit., p. 193
[15] Hank Hanegraaff. Op. cit., p. 95